CENÁRIO
O ano de 2015 foi particularmente desafiador pela soma das crises econômica e política pela qual o país vem passando. O PIB teve contração superior a 3% enquanto a inflação atingiu 10,67% no ano e os juros básicos 14,25%, se transformando em uma tempestade perfeita.
A situação fiscal e política do país tem dominado os debates entre os analistas. O mercado em geral segue bastante pessimista em relação ao cenário das contas públicas, não obstante, os resultados se deterioram em um ritmo ainda pior do que se previa. Além disto, a Operação Lava Jato contribui para tornar o sistema político disfuncional, tornando o processo de impeachment ainda mais conturbado, sendo que esses fatores fazem com que o governo tenha dificuldade, ao menos no curto prazo, de lidar com os problemas estruturais da economia. Observando esse contexto, duas agências de rating rebaixaram a nota de risco do país (S&P e Fitch), classificando o Brasil como grau especulativo.
A deterioração das expectativas dos agentes econômicos foi muito rápida e acentuada, podendo ser observada nos índices de confiança, que encerraram o ano em patamares extremamente baixos, travando tanto os investimentos quanto consumo e, por consequência, deixando as perspectivas de crescimento e resultado das empresas em níveis muito baixos. Devido a este cenário, o mercado acionário não reagiu bem em 2015, sendo que o Ibovespa encerrou em 43 mil pontos, contra os 50 mil ao final de 2014, queda superior a 13% no ano. As empresas com maior variação negativa são às ligadas ao setor de commodities, industrial, imobiliário e consumo interno.
A disparidade entre países desenvolvidos e em desenvolvimento se ampliou em 2015, com commodities em baixa (petróleo -35% e minério -39%) e dólar forte (+49%) a economia dos Estados Unidos apresentou desempenho superior às demais, com Europa e Japão apresentando recuperação. A China manteve sua rota de desaceleração, chegando a um crescimento de 6,9% do PIB, o menor em 25 anos.
A crise política e de confiança instalada no país faz com que as expectativas futuras para a economia sejam de nova queda do PIB em 2016 e possível recuperação amena em 2017. A necessidade de ajuste fiscal e aprovação de reformas impopulares (como da previdência, programas sociais e novos tributos) torna a economia dependente do ajuste político para que volte a apresentar crescimento.
PLANO III
A maior parte dos recursos do Plano III está alocada no segmento de renda fixa: 84% na Parcela Capitalização (correspondente aos participantes ativos) e 88% na Parcela Mutualismo (correspondente aos participantes aposentados). A alocação de recursos em renda variável representa 12,1% e 6,8% na parcela Capitalização e Mutualismo, respectivamente. Nos demais segmentos estão alocados apenas cerca de 4% dos recursos na Capitalização e 5% no Mutualismo. Cabe ressaltar que há alocação em imóveis apenas na carteira Mutualismo, a qual representa 2,7% do total dos recursos.
No acumulado do ano as parcelas Capitalização e Mutualismo atingiram rentabilidade de 8,47% (benchmark¹ 9,68%) e 12,94% (meta atuarial 17,40%), respectivamente.
A forte alta da inflação em 2015 (11,21%, medida pelo INPC), elevou consideravelmente a meta atuarial da parcela Mutualista do plano. Como aproximadamente 60% dos investimentos dessa parcela são títulos públicos indexados à inflação, marcados pela curva, com uma taxa média acima da meta atuarial, o principal detrator de valor no ano foi o descasamento de 0,6 p.p. entre os índices inflacionários. Na parcela Capitalização ocorreu uma adequação do benchmark em julho, para melhor representar as características desse plano, considerando que esta parcela tem seus investimentos majoritariamente marcados a mercado e que a rentabilidade desses ativos não guarda relação no curto prazo com um índice de referência absoluto (INPC +5,8%). No primeiro semestre o índice de referência foi fortemente puxado pela inflação, sendo que nem o Ibovespa e o IMA-B foram capazes de acompanhar o índice. No segundo semestre, após adequação do benchmark, foi possível observar ganhos em relação ao índice de referência.
O segmento de renda variável superou o desempenho do IBOVESPA em 1,1 p.p. na parcela Mutualismo e 0,7 p.p. na parcela Capitalização, contudo contribuiu negativamente para o resultado de ambas as parcelas em 2015 (-12,23% e -12,59%, respectivamente).
Os segmentos de investimentos imobiliários, empréstimos a participantes e investimentos estruturados, que representam cerca de 4% do total de recursos do plano, apresentaram rentabilidades médias de 37,26%, 18,91% e 15,09%, respectivamente, no ano de 2015.
A solvência da parcela Mutualista apresentou sensível melhora em 2015, mesmo considerando os impactos da crise política e econômica nos investimentos. O principal motivo é ajuste de precificação dos títulos públicos federais indexados à inflação que estão marcados na curva. Esse ajuste corresponde à diferença entre o valor dos títulos calculados considerando a taxa de desconto atuarial de 5,80% e o valor contábil desses títulos (os quais estão descontados pelas taxas de aquisição dos papeis). Considerando o ajuste, a parcela Mutualista fica muito próxima do equilíbrio entre o valor do ativo e do passivo.
Cabe ressaltar que a Fundação Copel tem uma filosofia de investimentos de longo prazo, refletida através de sua política de investimentos, pelo fato do seu passivo também ser de longo prazo. Nesse caso é importante que os resultados sejam observados em horizontes maiores. Ao analisar o histórico do plano constatamos que o crescimento composto do plano é de 15,6% ao ano, desde agosto de 1998, ao passo que o índice de referência apresentou valorização composta de 13,1% e a poupança de apenas 8,2% ao ano no mesmo período.
¹ Benchmark da Parcela Capitalização até 30/06/2015 foi o INPC + 5,5% a.a, depois passou a ser um índice híbrido com a composição de 45% IMA-B, 40% CDI e 15% IBOV.
*IMA-B: O Índice de Mercado Anbima representa a evolução da carteira teórica de títulos públicos federais indexados ao IPCA a preços de mercado.