Entrevistados de peso | Fundação Copel

DIAS INCERTOS

Cinco grandes especialistas comentam o que estamos vivendo e como sobreviver

Que estamos vivendo crises diversas no âmbito nacional e internacional, disso ninguém tem dúvida. O ponto delicado a ser tratado reside no sentimento de impotência diante das circunstâncias, pois constantemente nos sentimos à deriva neste universo desequilibrado dos dias de hoje. Toda Vida conversou com autoridades e especialistas para entender cada crise de maneira específica (energética, hídrica, ambiental, financeira e profissional), identificando também o que podemos fazer para nos preservar e contribuir para promover melhorias em nós mesmos e no mundo à nossa volta. Leia com atenção.


Luiz Fernando Vianna - Presidente da Copel 

Crise Energética, o alerta continua

Devido à estiagem no Brasil nos últimos dois anos, houve uma limitação da produção hidrelétrica – principal matriz energética brasileira, o que faz com seja necessário o acionamento de usinas térmicas, muito mais caras. E como o sistema elétrico é nacional, não adianta o Paraná ser superavitário na geração de energia elétrica, pois a energia vai para o sistema nacional antes de ser distribuída em todo o País, com o preço definido nos leilões do Governo Federal e tarifas estipuladas pela Agência Nacional de Energia Elétrica. Com o recente aumento gradativo no índice dos reservatórios de água das hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste do País, que na primeira quinzena de março chegou a cerca de 24%, o cenário de racionamento está um pouco menos provável. Mas é preciso esperar.


Esse cenário demonstra que, além de adotar medidas de racionalização, eficientização e redução do desperdício, é preciso, com urgência, diversificar a matriz energética do país, para impedir que o baixo nível dos reservatórios possa comprometer o fornecimento de energia no futuro. 

A Copel está fazendo a sua parte, com um investimento consistente na diversificação. Até 2019, além de mais 660 MW provenientes de duas novas hidrelétricas, a Companhia terá outros 700 MW oriundos de fonte eólica. Somente em 2015, a Copel vai aplicar R$ 222,3 milhões na construção de centrais eólicas. Três dos cinco complexos no Rio Grande do Norte devem ser inaugurados ainda no primeiro semestre. O consumidor sempre deve usar a energia de modo racionalizado, consciente, sem desperdiçá-la. Isso não significa privar-se de conforto, mas evitar excessos desnecessários, como deixar ligados eletrodomésticos e lâmpadas que não estão sendo usados. Assim, além de otimizar o uso de energia, o consumidor consegue, também, economizar na conta de luz.




Francisco Gomide - Ex-Ministro das Minas e Energia 

A era do “Ciclo Hidro-Ilógico

“Crise hídrica”, no entendimento popular, significa simplesmente “falta de água nas torneiras”. Essa “falta de água” ocorre pela combinação de poucas chuvas no passado recente, com alguma eventual deficiência dos sistemas de captação, armazenamento, tratamento e distribuição de água. Como chegamos à situação atual? Ocorre que as pessoas não têm sensibilidade para avaliar o impacto de eventos que demoram a se repetir (30, 40, 50 anos, digamos). Os governantes não têm nem sensibilidade nem interesse, dado o seu lamentável foco no curto prazo eleitoral. Hidrólogos costumam chamar de “Ciclo Hidro-ilógico” o fenômeno de as pessoas só apoiarem a execução de obras de infraestrutura depois de sofrerem as consequências de sua falta! A solução é recuperar o tempo perdido: combater as perdas na distribuição de água, despoluir os rios, os lagos e todos os efluentes. Captar e tratar o esgoto. Adicionalmente, verificar se o armazenamento de água máximo projetado está adequado. Eventualmente, implantar mais reservatórios a montante, nas cabeceiras, e estabelecer áreas de proteção de mananciais. Acontece que as situações vão mudando com o tempo, com o crescimento populacional, com o desenvolvimento econômico, com a urbanização e com eventuais mudanças climáticas. O planejamento de recursos hídricos tem de projetar décadas à frente. Não há cidades ou estados imunes a eventuais crises hídricas. Temos de passar a fazer as coisas direito: Dentro das nossas casas, não desperdiçar água. Mais do que não desperdiçar, poupar. Reutilizar sempre que possível. Também ajuda captar água da chuva para usos como descarga de vasos sanitários, lavagem de calçadas e limpeza em geral.


Clóvis Ricardo Schrappe Borges - Diretor Executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS) 

Destruir a natureza é matar aquilo que provê nossos recursos, é suicídio


Quando se abre mão do cuidado com as áreas naturais, pior se torna o provimento de serviços ambientais prestados por elas. O conjunto de relações entre fauna, flora, terra, água e demais elementos é como um motor, sendo que, ao se afetar um dos componentes, o mecanismo todo entra em risco. Somos providos por serviços ambientais, como a polinização na agricultura e o fornecimento de recursos hídricos. A natureza dá tudo de graça, mas conservá-la custa. Estamos depredando o planeta de forma muito acelerada. E se destruirmos a máquina que nos provê recursos, não teremos como substituí-la. O estado tem perdido cada vez mais o controle das grandes corporações. E o discurso da sustentabilidade se tornou demagógico. Há uma irresponsabilidade estabelecida e que permeia todos os setores da sociedade. Estamos abafando a solução, e não perseguindo-a. Os países não se aliam porque todos querem proteger seus interesses, deixando em segundo plano os interesses do planeta. Abdicamos de lutar por uma mudança por acreditarmos que o caos é irreversível. Temos milhões de hectares de áreas degradadas e os recursos marinhos têm sido cada vez mais abusados. Confundiu-se o ecologista com radical, mas o radicalismo está na outra ponta. Precisamos ter a noção de que recursos naturais são finitos, devemos dar destino correto ao lixo, economizar água e usar energia elétrica com racionalidade. Precisamos ter respeito pelo patrimônio natural, estando atentos ao entorno e denunciando áreas em estado de degradação. O poder público não é cobrado por causas ambientais, e, por isso, não há austeridade. O que acontece com o patrimônio natural na sua cidade, no seu estado, no seu país e no mundo vai afetar a sua vida. Se destruirmos a biodiversidade, a natureza vai ter problemas e, por conseguinte, nós teremos problemas. 



Sérgio Itamar - Professor do ISAE/FGV 

A crise financeira e as demais têm origem em uma única crise: a moral.

Paira no Brasil uma aura de desconfiança e instabilidade, o que é nocivo aos olhos dos investidores e gera baixa auto-estima interna. A crise demorou para se instaurar, agora demorará para passar. Temos uma taxa de emprego supostamente invejável, mas isso não é animador porque muita gente deixou de procurar trabalho (quem não procura emprego não é considerado desempregado, deixando de constar como tal perante os institutos de pesquisa). A indústria está em queda, os juros estão aumentando e os índices não mentem (juros, dólar, etc). A crise fará que mais pessoas procurarem emprego, só que estaremos em recessão, o que dificultará a abertura de novos postos de trabalho. Faltou contensão de gastos por parte do dstado. Deveria haver foco em saúde e educação. A crise econômica e a corrupção agravaram o sentimento coletivo de injustiça. E as grandes consequências ainda estão por vir. Cerca de 60% dos brasileiros possuem dívidas, sendo que entre 20% e 25% não têm como pagá-las. Com taxa de juros de 270% a 300% ao ano, em seis meses uma dívida dobra seu valor. Portanto, o principal conselho neste momento é: não entre em dívida no cartão ou no cheque especial, guarde o dinheiro. É um ano de imprevistos, portanto é bom ter um dinheiro guardado. O impulso consumista tem de ser controlado. Será necessário aprender a lidar com a instabilidade e com a economia (estamos acostumados a contrair dívidas, devido aos parcelamentos). O problema é que quando a população deixa de consumir, o comércio deixa de vender e precisa demitir. O Brasil é líder no ranking de quem mais paga imposto e menos recebe em contrapartida. Apesar do cenário, é preciso ter um olhar otimista.  Essa crise vai passar.



Gianfranco Muncinelli - Engenheiro Eletricista e professor do ISAE/FGV 

A hora e a vez dos criativos e pró-ativos.

Na atual situação é certo que as áreas profissionais mais afetadas serão as de baixa especialização, as que envolvem trabalho braçal. Porém, há áreas que podem se beneficiar da crise ou ficar imunes a ela, sendo necessário fazer a identificação de nichos, pois as necessidades das pessoas permanecem (temos de estudar, nos alimentar, enfim, viver). Quem busca seu lugar no mercado de trabalho deve especializar-se. E quem está empregado precisa continuar produzindo bem. Quanto mais você se fecha, mais se torna alvo. É necessário empolgação. Quem fica apático porque acredita que será demitido, apenas reforçará ainda mais as razões da empresa para excluí-lo de seus quadros. As áreas profissionais mais valorizadas serão aquelas que envolvem criatividade e pró-atividade. A sustentabilidade também se mostrará importante, pois as pessoas estão precisando se reinventar com a crise hídrica. Ganhará predileção quem tiver o perfil de intra-empreendedor: um colaborador que trabalha na companhia assumindo o olhar do dono. Para quem pretende aprimorar sua carreira no exterior, é preciso primeiro saber qual é objetivo real: se é fugir ou se aprimorar. Ver de perto o que uma cultura diferente faz é importante e merece a estímulo. Mas isso deve estar adequado a um planejamento de carreira (exemplo: ir para a França aprender francês se você não vai usar este idioma é perda de tempo). Os novos negócios no mundo digital também acenam como uma oportunidade nesse momento, principalmente pelo baixo custo de investimento (dependendo do negócio). E, por fim, um coaching pode ajudar o profissional a se realizar, revelando estratégias e orientando sobre como chegar lá. Construir uma carreira com um aliado, um técnico, pode ser mais efetivo quanto aos resultados.